HISTÓRIA DA MOEDA - 17 PARADOXOS DA MOEDA MODERNA

"Nem objeto mercantil, nem atributo do poder, a moeda expressa as regras do fogo social"  
Ghislain Deleplace



0S economistas costumam adotar uma atitude em relação à moeda que pode parecer curiosa. À medida que, no século XVIII, se desenvolveram os bancos emissores de cédulas, graças aos quais se tornou possível implantar uma política de criação monetária autônoma, livre das limitações impostas pela produção de metais preciosos, puseram-se os economistas a propagar a idéia de que a moeda é um fenômeno secundário, que pode ser abstraído dos estudos sobre as leis econômicas fundamentais. Mas esse ponto de vista, desde então predominante, não os impede de denunciar regularmente as desordens monetárias responsáveis, segundo eles crêem, pela instabilidade das economias, enquanto insistem em atribuir à moeda um lugar subalterno no funcionamento dessas mesmas economias. Essa atitude duplamente paradoxal demonstra, pelo menos, a complexidade da função da moeda nas sociedades modernas.
Mas foi em torno da análise monetária da sociedade que se desenvolveu o pensamento econômico na Europa do Renascimento. A moeda era então considerada o objeto da riqueza dos comerciantes e, ao mesmo tempo, o atributo do poder dos príncipes. A relação entre príncipes e comerciantes era, na época, o verdadeiro tema da análise monetária – e o fundamento de uma teoria econômica da sociedade.
Esse enfoque sofreu no século XVIII uma mudança radical, confirmada pelas palavras do filósofo inglês David Hume (1711-76): “A moeda propriamente dita não é um dos objetos do comércio, mas apenas o instrumento pelo qual os homens entram em acordo para facilitar a troca de mercadorias. Não é a engrenagem dos negócios, mas o óleo que torna o movimento da engrenagem mais fácil e suave.”
Esse conceito puramente instrumental da moeda é o corolário de uma visão da sociedade em que o mercado desempenha sozinho o papel de regulador. Induz a destituir o príncipe – o Estado – de qualquer função de coordenador entre os agentes privados, pois estes são todos comerciantes, naturalmente ligados uns aos outros nessa “sociedade mercantil” Reduz assim a moeda a um simples véu, que envolve as trocas e deve ser descartado para que se possa analisar a realidade dos fenômenos econômicos. Qualquer tentativa de o Estado gerir a moeda é, portanto, considerada ameaçadora para a harmonia social, cuja fonte natural é atribuída às leis da concorrência.
Essa desmaterialização progressiva do instrumento monetário é então compreendida como uma simplificação das trocas comerciais. Objetos de uso corrente nas comunidades funcionam sucessivamente como moeda – um metal qualquer, ouro ou prata em barras e lingotes, diversos metais, certificados de ouro, cédulas, cheques e cartões de crédito, enquanto não surge a moeda eletrônica. Em conseqüência da desmaterialização, a moeda é emancipada de qualquer objeto que garanta seu valor, para se transformar em puro instrumento de transferência.
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